“Quero que as pessoas percam o preconceito contra a cozinha alemã”

Nessa entrevista conto como é ser um cozinheiro alemão entre brasileiro

Cozinha alemã
“Quero que as pessoas percam o preconceito contra a cozinha alemã”
Jornalista Bruna Bernardes

bruna.bernardes@diario.com.br

Entrevista 25/04/2014 | 07h07

Entre os chefs estrelados a bordo do cruzeiro gourmet realizado pela América do Sul, entre 4 e 11 de abril, destaca-se Heiko Grabolle. Nascido na Alemanha e radicado em Santa Catarina há 10 anos, o chef se divide entre a capital catarinense e Blumenau, onde comanda o Restaurante-Escola do Senac. O chef Alemão, como também é conhecido, veio parar em Santa Catarina por amor. Se apaixonou pela esposa florianopolitana quando estava na Espanha e decidiu trazer seu talento e experiência para o Estado. Entrevistá-lo é sinônimo de boas risadas e algum tempo a mais dando pause e play no gravador. Apesar de morar há anos no Brasil, ele ainda carrega um forte sotaque. Muito bem-humorado, o chef conquistou todos com seu carisma durante os sete dias do cruzeiro.

DC – Como você avalia a cozinha alemã em Santa Catarina?
Heiko – Quando me mudei para o Brasil fiquei bem surpreso por encontrar aqui a gastronomia alemã dos meus antepassados, que antes só havia escutado na faculdade, mas nunca visto ou comido. A cozinha dos imigrantes alemães que vemos aqui é de 150 anos atrás. Parou no tempo. Uma comida muito pesada feita com embutidos e alimentos em conserva. E isso não é o que se vê na Alemanha hoje. Eu respeito a cozinha daqui, mas posso dizer que faço um complemento com o meu conhecimento mais atualizado da gastronomia de lá.

DC – Como você descreve sua cozinha?
Heiko – É cozinha alemã, só que atualizada. Ou seja, são pratos mais leves elaborados com saladas, peixes, cogumelos. Eu tento mostrar que cozinha germânica não se restringe ao joelho de porco. Ela pode ser divertida também. Há muito preconceito e eu quero fazer com que as pessoas percam isso.

DC – Quais pratos que comemos aqui e não são tão comuns na Alemanha?
Heiko – O marreco recheado, por exemplo, não se encontra mais na Alemanha. Assim como é raro vermos joelho de porco, o hackepeter e alimentos em conserva. Até o chucrute não é mais tão utilizado da mesma forma que aqui no Brasil.

Qual o panorama atual da gastronomia brasileira na sua opinião?
Heiko – É a vez do Brasil. Hoje só se fala de uma coisa no mundo: em cozinha brasileira. Existe um trabalho sendo feito por diversos chefs. Hoje temos a cozinha de Minas Gerais, do Sul, do gaúcho, do Nordeste. E começamos a divulgar isso no mundo. Eventos internacionais como esse são fundamentais para a divulgação dessa nova culinária do país.

DC – E o que o chef gosta de comer?
Heiko – Carne. Eu amo carne. Moro há 10 anos no Brasil e ainda vou ao supermercado, tiro foto da prateleira e mando para os meus irmãos lá na Alemanha. Que maldade! (risos) Mas confesso que sempre que faço um churrasco mando foto para eles. Trabalhei muito tempo na Europa, onde temos muitos produtos prontos e industrializados. Já na cozinha brasileira, os produtos são frescos. Há muitos legumes. Não é um país que vive de enlatados. Por isso a cozinha brasileira custa caro na Europa. Por ser baseada em produtos de primeira qualidade. Na Europa se faz um chucrute muito mais barato do que aqui, por exemplo, com repolho-roxo.

DC – Sobremesa preferida?
Heiko – Gosto de Romeu e Julieta (queijo com goiabada), brigadeiro, bolo floresta negra, chocolate e frutas em geral.

DC – E a bebida?
Heiko – Cerveja, sem dúvida!

DC – O que você mais gosta de cozinhar?
Heiko – São os pratos da cozinha dos imigrantes alemães. Esse é o meu lance. Eu vendo na Oktoberfest quase 20 mil pratos. Gosto de trabalhar com grandes quantidades e com grandes equipes.

*A jornalista Bruna Bernardes viajou a convite da Royal Caribbean.

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